Rodrigo Cass por Adriano Pedrosa.
ABC - Arte Brasileira Contemporânea, Cosac Naify, 2013.
ISBN 978-85-405-0632-9
Adriano Pedrosa Como foi sua formação?
Rodrigo Cass Em 2006 conclui o Bacharelado em Artes Plásticas na Faculdade Santa Marcelina em São Paulo e estudei dois anos de Filosofia e Teologia na Faculdade Jesuíta em Belo Horizonte.
AP E sua vida religiosa?
RC Fui religioso Carmelita durante nove anos. Entrei na Ordem do Carmo em 2000 com 16 anos de idade. Residi nos conventos carmelitas de Itu, Mogi das Cruzes, Barretos, São Paulo e Belo Horizonte. Tinha uma vida de oração, silêncio e contemplação, situação que também me aproximou da arte. Em 2001 fiz um curso de pintura de ícones bizantinos em Mogi das Cruzes; passei a pintar interiores de igrejas e ícones no estilo bizantino tradicional até 2008, quando saí da vida religiosa.
AP Mas quando você entrou na Santa Marcelina você ainda estava na vida religiosa?
RC Os próprios Carmelitas que me solicitaram estudar Artes Plásticas para desenvolver as pinturas que fazia; mas o curso revelou outro mundo que eu não conhecia.
AP Quem foram seus professores?
RC Leda Catunda, Regina Teixeira de Barros, Marcos Moraes, Arthur Lescher, Raquel Garbelotti.
AP E a Bolsa Pampulha.
RC Foi outro período de formação, acompanhamento crítico e exposição no Museu de Arte da Pampulha em Belo Horizonte em 2010-2011. Já conhecia bem cada canto do museu e com a Bolsa isso se intensificou. Aquilo tudo ficou muito íntimo e familiar. Hoje quando volto lá parece que tudo aquilo é meu. Foi a primeira vez que tive um tratamento profissional como artista, com a bolsa, a exposição, a publicação e a interlocução com artistas e curadores.
AP É interessante você falar dessa intimidade, porque um dos conceitos que nós desenvolvíamos quando eu era curador lá era o museu íntimo, pequeno, com poucos recursos, que permitia uma intimidade maior com os interlocutores inclusive na Bolsa.
RC A primeira vez que o visitei, fiquei chocado; aquele espaço não continha a ideia de museu, ele já era a obra de arte.
AP E dessa intimidade é que surgem esses trabalhos tão site specific que você fez lá na exposição de conclusão do programa, curada pela Ana Paula Cohen, em 2011: Copo Americano, Arma Branca, Reserva Própria e Continente Econômico.
RC Copo Americano foi o primeiro trabalho que fiz na Bolsa, pensando naquela situação da parede baixa do museu. A ideia deste vídeo me pareceu bem simples; consistia em derramar a água contida em uma garrafa verde ao lado de um copo transparente e vazio.
AP Mas depois você viu uma complexidade.
RC Meu interesse era intensificar o vazio do copo, algo que chegasse ao limite, ao absurdo, como se fosse o início de uma revolução ou a possibilidade do erro. Utilizei o chamado Copo Americano, ícone do design brasileiro, e me interessou porque era o mais simples e fácil de encontrar. As cores utilizadas como fundo e base são o verde e rosa, verde de catálogo, desbotado, rebaixado, encontrado pronto em lojas de tintas e que o tenho de memória do interior do Pará da casa dos meus avós e das casas de periferia. Antes meus vídeos tinham fundo infinito, mas agora queria algo que evidenciasse o espaço por meio de uma composição pictórica.
AP E o Rosa?
RC O Rosa é o contraste. Procurei um rosa desgastado, resultado do devoramento de outras cores em baixo contraste.
AP Tem uma relação com o Volpi e sua famosa “cor caipira”.
RC Sim, gosto muito do Volpi, olhei as pinturas dele.
AP Tem algum elemento político no seu trabalho?
RC A começar pelos títulos, eles buscam evidenciar essa relação. Em Formal Social (2012) taças de cristal foram quebradas nas partes que se tocariam ao brindar e reconstruídas com concreto. Há uma fricção entre essas duas matérias. A identidade se constrói pela diferença. A taça transparente, objeto nobre e de privilégio, de forma lapidada e fabricada é contrastada com o concreto bruto e opaco, elemento da rua, da arquitetura, da cidade, que deixa manifesto o desenho frágil da quebra na transparência do cristal.
AP Como você vê esse contexto do mercado de arte hoje, super aquecido, com uma demanda por novos artistas?
RC Eu acho isso estranho, sinto uma fragilidade nisso tudo.
AP Vc acha isso perigoso?
RC É uma coisa nova. É um desafio para o trabalho.